segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O direito democrático de pedalar em segurança.

"Você pode dizer que sou um sonhador, mas não estou sozinho nisso. Espero que um dia você se junte a nós, e o mundo será como se fosse um só." (JohnLenon)

Existem pessoas que preferem caminhar e para isso são necessárias calçadas bem conservadas, faixas de segurança, etc. Há os que preferem andar de carro, sendo indispensável a construção de ruas bem pavimentadas e sinalização adequada. Existem as pessoas portadoras de deficiências físicas para quem são imprescindíveis as rampas de acesso e locais adaptados às suas necessidades especiais. Há os que preferem (ou necessitam) andar de bicicleta sendo necessária a construção de ciclofaixas e ciclovias. Temos também caminhões, ônibus, carroças e motocicletas. Todos meios de transporte ou deslocamento, todos necessitados de políticas de trânsito que considerem e respeitem a utilização de um mesmo espaço por uma diversidade de pessoas.
O trânsito também é um exercício de democracia onde pessoas compartilham o mesmo espaço viário não se podendo eliminar qualquer uma das categorias acima mencionadas por capricho ou arbitrariedade.
Imaginemos se as pessoas começassem a se revoltar com as rampas de acesso para deficientes ou com os estacionamentos privativos para motocicletas, que por certo diminuem o espaço de estacionamento de veículos.
Se começássemos a aceitar ações de pura discriminação, estaríamos retrocedendo em termos de evolução social, estaríamos retornando ao tempo em que pouco ou nada valiam as liberdades individuais, sempre prevalecendo a vontade dos mais fortes (normalmente minorias) em detrimentos dos anseios dos mais “fracos” (normalmente maioria).
A humanidade ainda tem muito a melhorar, mas retroceder não pode fazer parte desta caminhada.
Digo tudo isso, por que me é difícil compreender a razão de tanta oposição para a construção de uma ciclofaixa na rua Andrade Neves, que foi escolhida para tal projeto por razões técnicas.
Verdade é que com ou sem ciclofaixa ainda teremos ciclistas estes terão de se deslocar.
A utilização da bicicleta como meio de transporte encaixa-se perfeitamente com as aspirações mundiais de reversão do quadro de poluição. Coaduna-se com a necessidade da população em desenvolver hábitos saudáveis que proporcionam melhor qualidade de vida.
Esta oposição à construção de uma ciclofaixa é um combate inexplicável, recheado de clichês tais como o de que “os ciclistas são mal educados”, ou que “atrapalham o trânsito”, como se não existissem motoristas inconseqüentes ou pedestres descuidados. Na verdade todos são pessoas, independentemente do meio de locomoção que utilizam, e que têm de buscar agir de forma prudente, ética e associativa não segregando e quem sabe gastando energia com problemas sociais sérios como a violência, a precariedade do sistema público de saúde e tantas outras chagas sociais que recheiam os noticiários diariamente.
Nos dias de hoje o que falta é tolerância para com os desejos e as necessidades dos outros especialmente quando nos sentimos incomodados com algo que é tão pouco para nós, mas pode representar tudo para os demais.
As ruas, calçadas, avenidas, praças, são locais de todos e devem servir aos mais diversos fins, ainda que para isso tenhamos que ceder um pouco ali, outro pouco acolá, e esse é o significado da liberdade e da igualdade.
Ser contra ciclofaixas é andar na contramão do progresso social. É estimular a indiferença com relação àqueles que fizeram opções diferentes das nossas e que nem por isso têm menos direito. Como disse Bernard Shaw: “O pior pecado contra nossos semelhantes não é o de odiá-los, mas o de sermos indiferentes para com eles.”

Hector Horacio Severi Cardoso
Professor
Participante do Movimento dos Usuários de Bicicleta de Pelotas

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